sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Portfólio da aula 5 – 26 de setembro de 2009

A aula do dia 26/09/09 foi dividida em dois tempos e abordou os seguintes temas:
No primeiro, o professor Edson introduziu algumas considerações do assunto que seria trabalhado na aula do dia, tais como: a oralidade como um elemento fundamental no início do processo de aquisição da escrita; os conceitos dos termos “escrito” e “escrita” e as suas relações com os métodos analíticos e sintéticos.
Posteriormente, após a apresentação do grupo que retomou o assunto da aula anterior (de 19/09/09), foi proposta uma discussão a partir da questão: O Método Fônico é capaz, em substituição à metodologia atual, de garantir o pleno desenvolvimento da criança no processo de aprendizagem da leitura e da escrita?
Durante essa discussão, alguns apontamentos foram levantados:
· a importância do professor pesquisador, que conhece a fundo as teorias de ensino-aprendizagem e sabe extrair delas os pontos benéficos utilizando-os nos momentos de intervenção durante o processo de aprendizagem. Portanto, esse professor é capaz de desenvolver a sua própria prática de ensino garantindo a aquisição do conhecimento pela criança;
· as questões política, econômica e pedagógica do livro didático, que fazem com que ele não contribua para o desenvolvimento pleno do aluno nesse processo de produção da escrita;
· o professor, nesse percurso do processo de aprendizagem da leitura e da escrita, tem de estar conectado com as questões do Letramento e da consciência fônica, além de induzir as crianças a se analisarem no que se refere a letra-som;
· a aplicação de atividades que façam sentido aos alunos e que dão oportunidades deles manterem contato com a língua escrita, assim como a utilização de textos do meio cultural e social da infância da criança, durante o processo de alfabetização.
No segundo momento da aula, foi apresentado o tema Heterogeneidade Constitutiva a Escrita, retomando a definição sobre “o escrito” e a “escrita” e apontando, também, a distinção entre eles:
• O escrito: é o que, na escrita, refere-se ao traço, à grafia, à transcrição
• A escrita: a que produz os textos (representação do pensamento), pertence ao plano discursivo
O professor Edson seguiu com a abordagem histórica da função social da escrita, cuja finalidade era tão somente a transcrição ou escrituração da palavra falada. Já na Idade Média, a escrita teve o papel de preservar o que era falado, limitando o ofício do escriba ao registro, ficando a autoria do texto vinculada ao seu pensador. A imprensa e as novas tecnologias fizeram com que o texto ganhasse autonomia em relação à palavra e, assim, o escrito deixa, definitivamente, de ser acompanhado da fala. Em suma, a oralidade aparta-se da escrita, difundindo a idéia de coisas distintas. Nessa perspectiva, autor e escriba; grafia e texto; escrito e escrita: fundiram-se e confundiram-se.
Atualmente, a proposta é a retomada da visão de que a escrita continua pautada na oralidade. Os professores têm cometido um equívoco, durante o processo de elaboração das hipóteses da escrita, em tirar as marcas de oralidade dos textos das crianças.
O professor Edson fez uma observação interessante sobre a presença das marcas de oralidade nas produções das crianças: “aquelas que já possuem contato com a escrita trazem em suas marcas de oralidade maior influência do registro convencional da escrita, o que não acontece com as crianças que não possuem contato fluente com a escrita.” É durante o processo que a criança vai entendendo o momento em que ela pode usar mais ou menos as marcas de oralidade em seus textos, à medida que vai tendo mais contato com eles.
Então, fica claro que a relação entre fala e escrita é muito intrínseca, não havendo como desvincular uma da outra. De certa forma, uma sempre interferirá na outra, modificando-se mutuamente:
fala 1 <=> escrita 1 <=> fala 2 <=> escrita 2

Portanto, o estudo enfatiza a necessidade de romper com a dicotomia oral/escrito defendida pelos cânones tradicionais de uma escrita pura, livre de tais marcas. Além disso, deve-se dar oportunidade para a criança analisar o que ela escreveu, sem invalidar as suas hipóteses da escrita.
A partir desta discussão percebemos o grau de importância da oralidade durante o processo de alfabetização. Neste momento em que a criança está buscando o domínio da aprendizagem, é essencial que o professor a induza a fazer as reanálises da construção do texto e, assim, as marcas da oralidade tendem a diminuir. Evidentemente, é por meio da intervenção adequada do professor que a criança consegue produzir os textos segundo as convenções.
Realmente, foi enriquecedor para o grupo a aquisição do tema e, durante a prática em sala de aula muitos aspectos terão uma nova percepção e aplicação, pois o mais importante é manter o desenvolvimento da criança, não apenas com respeito, mas acima de tudo, com compreensão. Cada etapa pela qual a criança passa tem a sua razão de existir e o professor deverá pesquisar muito e conduzir da maneira mais tranqüila, de maneira que todos aprendam e sem sofrimento.
Durante o estudo deste item identificamos o quanto a oralidade pode estar presente na produção da escrita formal e um bom exemplo está em nossa Literatura Regional, como o cordel que utiliza elementos do cotidiano e registra-os respeitando as marcas da oralidade.
É por meio da leitura destas obras e de tantas outras que percebemos que o aspecto coloquial da fala ultrapassa o aspecto oral e ganha espaço na escrita de autores conceituados. Naturalmente, com o objetivo de demonstrar a coloquialidade ou realmente infringir as leis normativas, a comunicação não deixa de acontecer em função da existência de características da oralidade.

Cordel - Malinculia (Antonino Sales)
Malinculia, Patrão,
É um suspiro maguado
Qui nace no coração!
É o grito safucado
Duma sôdade iscundida
Qui nos fala do passado
Sem se torná cunhicida!
É aquilo qui se sente
Sem se pudê ispricá!
Qui fala dentro da gente
Mas qui não diz onde istá!
Malinculia é tristeza
Misturada cum paxão,
Vibrando na furtaleza
Das corda do coração!
Malinculia é qui nem
Um caminho bem diserto
Onde não passa ninguém...
Mas nem purisso, bem perto,
Uma voz misteriosa
Relata munto baxinho
Umas históra sôdosa,
Cheias de amô e carinho!
Seu moço, malinculia
É a luz isbranquiçada
Dos ano qui se passou...
É ternura... é aligria...
É uma frô prêfumada
Mudando sempre de cô!
Às vez ela vem na prece
Qui a gente reza sósinho.
Outras vez ela aparece
No canto dum passarinho,
Numa lembrança apagada,
No rumance dum amô,
Numa coisa já passada,
Num sonho qui se afindou!
A tá da malinculia
Não tem casa onde morá...
.........................
Ela véve noite e dia
Os coração a rondá!...
.........................
Não tem corpo, não tem arma,
Não é home nem muié...
.........................
E ninguém lhe bate parma
Pru causo de sê quem é!
.........................
Ela se isconde num bêjo
Qui foi dado ha muntos ano...
Malinculia é desejo,
É cinza de disingano,
Malinculia é amô
Pulo tempo sipurtado,
Malinculia é a dô
Qui o home sofre calado
Quando lhe vem à lembrança
Passages de sua vida...
.........................
Juras de amô... isperança...
Na mucidade colhida!
.........................
É tudo o qui pode havê
Guardado num coração!
.........................
É uma históra qui se lê
Sem forma de ispricação!
.........................
Pruquê inda vai nacê
O home, ou mêrmo a muié,
Capacitado a dizê
.........................
Malinculia o qui é!!!

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